Friday, January 14, 2005

A rua por onde sigo

Há dias em que tomamos decisões. Por vezes pensamos que as tomamos, mas na verdade não passam de meras desculpas que arranjamos para nos convencermos de que neste nariz mandamos nós.
Farsas. Pretextos.
Somos apanhados em falso ao virar de qualquer esquina. Tropeçamos no obstáculo, escorregamos, sacudimos a roupa rapidamente e fugimos à procura do buraco mais próximo, para lá nos enfiarmos e esperarmos que o tempo nos convença a voltar cá para fora. Quando decidimos sair de novo, fingimos que nada aconteceu, agimos como nos habituámos a agir e, de preferência, com a maior naturalidade possível. Mas no nosso íntimo, esses episódios não se esquecem. Há sempre aquele prédio, aquela rua traiçoeira que nos fez escorregar.
Se voltamos a lá passar? Sim, não lhes resistimos, mas desta vez com cautela ou então com uma nova estratégia, passando para o outro lado do passeio ou fazendo um corta-mato, convictos de que desse modo transpomos o obstáculo.
Farsas. Pretextos.
Há obstáculos intrasponíveis.
A única solução é virar as costas e procurar outro caminho, uma rua menos estreita, menos sinuosa, onde consigamos andar intuitivamente, sem recurso a mapa, sem medo de resvalar. Mais do que fazer desvios no itinerário, a verdadeira decisão é aquela em que mudamos de destino e não de percurso.

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