Monday, August 22, 2005

Find your way

Anja Hubner fará parte de mim para sempre.

Há uma semana perdi o amor da minha vida. Partiu deixando-me ligada a ele eternamente. Olho para o mar e vejo-o, sinto-me perto dele. É lá que nos reencontramos.

Anja é uma instrutora de surf alemã. Em tempos sofreu um acidente muito grave que a deixou entre a vida e a morte. A gravidade da situação fê-la recuar perante a vida de advogada de sucesso que tinha na Alemanha, para recomeçar uma nova vida. Tornou-se surfista e partiu à descoberta do mundo. A família dela reduz-se ao Kimba (um cão que adoptou nas Caraíbas) e a um infindável número de amigos que estão espalhados por todo o planeta. Considera a Nova Zelândia a sua casa (onde viveu durante muito tempo) mas Anja não pertence a nenhum lugar. Viaja numa caravana à procura do mar e da tranquilidade que este lhe traz.

O destino levou-nos a um campo de férias alemão. Conhecemo-nos justamente poucos dias após o meu amor ter partido. Ofereceu-se para me ensinar a surfar, sem nunca ter sabido o que se havia passado na minha vida. Marquei a minha primeira aula de surf e na véspera encontrei-me com ela junto à sua caravana. Expliquei-lhe a razão pela qual precisava daquela aula. Queria alguma paz de espírito, lavar a alma, sentir-me próxima do meu amor (ex-surfista e ex-biólogo marinho). A minha relação com o mar é extremamente emocional e é isso que me coloca em cima de uma prancha. Contei-lhe o que se havia passado e disse-lhe que, mesmo que me revelasse uma péssima surfista, nada importaria desde que estivesse dentro do mar, entre as ondas, para voltar a senti-lo perto de mim.

Separámo-nos com a certeza de que nos encontrariamos no dia seguinte para a minha primeira aula de surf.

Uma hora depois, Anja veio ter comigo. Perguntou-me se conhecia os Maoris (mal sabendo que me tinha formado em Antropologia e que ao longo de anos nutriamos - eu e o meu amor - uma longa admiração pelos povos do Pacífico Sul. Recordo dele me dizer que a única tatuagem que gostaria de ter é aquela que os Maoris fazem no nariz. O meu amor podia ser Maori. Ninguém desconfiaria. Quando torcia pela equipa de râguebi neo-zelandesa, os All Blacks, nos pubs neo-zelandeses da Irlanda, os próprios antípodas emigrados confundiam-no com um deles e adoptaram-no como tal. Tudo demasiado certo. Tudo demasiado destinado).

Anja contou-me que as mulheres Maoris fabricam uma espécie de amuleto em osso de peixe para oferecerem aos seus maridos, antes destes partirem para o mar. Esse amuleto tem a forma de um peixe enrolado sobre si mesmo e é uma forma de lhes desejarem uma boa faina. Anja tem um colar com um amuleto desses e mostrou-mo. Disse-me que ninguém possui este amuleto se não tiver sido oferecido por um Maori. Não o fazem para vender como artesanato. Apenas as pessoas que consideram especiais o recebem das suas mãos. Depois retirou debaixo da t-shirt um outro fio, com outro amuleto. Contou-me que o recebeu de um Maori após o acidente que mudou o rumo da sua vida e desde aí nunca mais se separou dele. Esse amuleto destina-se a ajudar-nos a encontrar o nosso caminho. Anja olhou para mim e disse-me: "Depois de ter ouvido a tua história, quero oferecer-te este colar, que nunca se separou de mim. Take it and find your way."

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