Friday, January 14, 2005

A rua por onde sigo

Há dias em que tomamos decisões. Por vezes pensamos que as tomamos, mas na verdade não passam de meras desculpas que arranjamos para nos convencermos de que neste nariz mandamos nós.
Farsas. Pretextos.
Somos apanhados em falso ao virar de qualquer esquina. Tropeçamos no obstáculo, escorregamos, sacudimos a roupa rapidamente e fugimos à procura do buraco mais próximo, para lá nos enfiarmos e esperarmos que o tempo nos convença a voltar cá para fora. Quando decidimos sair de novo, fingimos que nada aconteceu, agimos como nos habituámos a agir e, de preferência, com a maior naturalidade possível. Mas no nosso íntimo, esses episódios não se esquecem. Há sempre aquele prédio, aquela rua traiçoeira que nos fez escorregar.
Se voltamos a lá passar? Sim, não lhes resistimos, mas desta vez com cautela ou então com uma nova estratégia, passando para o outro lado do passeio ou fazendo um corta-mato, convictos de que desse modo transpomos o obstáculo.
Farsas. Pretextos.
Há obstáculos intrasponíveis.
A única solução é virar as costas e procurar outro caminho, uma rua menos estreita, menos sinuosa, onde consigamos andar intuitivamente, sem recurso a mapa, sem medo de resvalar. Mais do que fazer desvios no itinerário, a verdadeira decisão é aquela em que mudamos de destino e não de percurso.

Tuesday, January 11, 2005

Um novo começo?

Consciente ou inconscientemente, todos nós reservamos uma noite por ano para pensar seriamente nas nossas vidas.
De 31 de Dezembro para 1 de Janeiro assumimos, quase que obrigatoriamente, uma atitude de reflexão e introspecção e traçamos, numa noite só, planos que nos motivam a enfrentar os próximos 365 dias.
Marcamos o ponto de recomeço para a manhã seguinte e acordamos com a sensação de que agora sim, será tudo diferente. Sentimo-nos forçados a acreditar que as coisas mudaram, ou que podem mudar, e é com essa condição que deixamos o ano entrar nas nossas vidas.
Habituei-me a ser menos exigente, ou talvez mais realista, mesmo sabendo que no meu íntimo guardo sempre desejos que já nem me atrevo a pronunciar. Tenho medo de os espantar, adiando-os para anos futuros.
Em tempos, via-me a gastar egoisticamente 12 passas, só comigo. Listava 12 desejos a muito custo. Desejos que se debatiam ao longo do último dia do ano para conseguirem conquistar um lugar no top das minhas aspirações.
Revejo a última noite do ano que passou e reconheço, agora, que todos os meus desejos tinham destinatários. Surpreendo-me com a fragilidade da minha existência. Apercebo-me que um novo começo só virá na manhã em que os desejos voltarem a ser meus.