Tuesday, May 09, 2006

Como Ícaro



Sempre que falo contigo ganho coragem para me abeirar do precipício, abrir as asas e dar o salto sobre o mar.
Sei que o meu problema é olhar demasiado para baixo e desviar a atenção do horizonte, em vez de me concentrar na rota a seguir.
Nunca fui boa tripulante dos meus voos e tal como Ícaro, perco-me à procura do calor do Sol, mesmo sabendo que vou derreter o coração.
De tanta queda que dei, agora só me consigo focar na altura que me separa do chão e peco por não me deixar elevar demasiado.
Gostava de ser um planador para não me preocupar com as correntes de ar quente que me fazem oscilar quando pairo, mas falta-me a confiança nas asas e acabo por desistir da viagem.
Como uma ave migratória, tendo a voar para Sul sempre que sigo o meu instinto. Transporto-me para um passado de memórias e sensações quentes, para um refúgio a Sul que já não existe.
Baixo as asas e hiberno, esperando que o Verão acabe por voltar. Invisto todas as minhas energias a preparar-me para a estação que aí vem, mas quando chegam as primeras brisas de ar quente questiono-me quanto à minha habilidade para voar.
Na verdade, falta-me uma rampa de lançamento, um impulso que me projecte para o grande salto que tenho de dar.
Apercebo-me disso sempre que falo contigo.

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